Ponto de vista

OPINIÃO


Pessoal, o que vou comentar aqui é apenas a minha opinião. Esqueça-se que faço música. Escrevo na condição de ouvinte.

Outro dia, estive lendo um desabafo postado pelo meu primo e amigo Beto Umpierre, lamentando o fato de que a música gaúcha, por bonita que seja, mal consegue ultrapassar as fronteiras do RS, enquanto que outras tendências musicais têm perfeita aceitação por aqui.

Acho que ninguém é culpado se não a mentalidade que impera em nosso próprio meio. Somos um estado com uma riqueza cultural de causar inveja. Basta conhecê-la para se apaixonar por ela. E a música é uma das melhores formas de divulgar toda essa riqueza, torná-la conhecida e cada vez mais admirada. Mas, para isso, devemos, antes, libertar a nós mesmos de alguns preconceitos. A ausência da palavra “cavalo” em uma letra não significa que a música não seja gaúcha. Da mesma forma, a presença de um violino no instrumental não é fator suficientemente significativo para excluir uma melodia do “nosso” cancioneiro. Não gosto de miscelâneas exageradas, mas a cultura gaúcha não é só xucrismo. Devemos, sem dúvida, cultivar a tradição, mas não cultuar o atraso. Analogamente, a essência e a autenticidade podem e devem ser cultivadas, mas isso não significa cultuar a grossura. Exemplo disso, são as lindíssimas coreografias apresentadas no ENART. A tradição e a essência são preservadas nas exibições das danças como sempre foram praticadas desde nossas raízes, mas as coreografias libertam nossa arte, nossa evolução e nossa capacidade criativa, para que o mundo as veja. Tradição é cultura e autenticidade é manifestar essa cultura de forma simples, sem fugir das origens, mas sem medo da evolução. Acho que evoluir é exatamente mudar sem perder a identidade. Ninguém vai roubar nossa cultura. Devemos estar atentos, isso sim, para a deturpação. No mais, acho que música é uma linguagem divina. É algo grandioso demais para ser aprisionado em compartimentos estanques e incomunicáveis, ou rotulado e etiquetado como propriedade particular, ou mesmo deste ou daquele estado. A música é capaz de identificar culturalmente um povo, mas esse povo não pode mantê-la em cárcere privado, senão ela deixa de ser cultura.
Como disse inicialmente, este é apenas meu ponto de vista como ouvinte e apreciador da música gaúcha. Respeito o de outras pessoas, qualquer que seja ele.



Miro Saldanha | Música Gaúcha com cara de Brasil
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