Avisos

ENTREVISTA


Em entrevista à revista SOMANDO, veiculada pela Rádio Planalto de Passo Fundo/RS, em sua edição de número 47, me foi perguntado sobre a influência da música do centro do país sobre a cultura (música) do RS, e o porquê da dificuldade da música gaúcha em cruzar as fronteiras do nosso estado. Reproduzo aqui esse trecho da entrevista. Caso queiram lê-la na íntegra, segue o link ao final do texto. Agradeço pelo espaço e pela condução magistral da entrevista, realizada pelo jornalista  Dilerman Zanchet.
http://rdplanalto.com/revista-somando/47.

Somando On Line: Qual a sua opinião sobre a influência da música do centro do país na cultura rio-grandense e, em seu ponto de vista, porque a nossa música não ultrapassa tantas fronteiras?

Miro Saldanha: São duas perguntas intimamente relacionadas. Acredito que a primeira se refira à música sertaneja. Se entendi bem, estamos falando de algo nacional, não apenas da região central. Aqui no RS há uma resistência muito forte, por parte dos defensores da nossa cultura, em aceitar a entrada da música sertaneja. Acho que, até hoje a influência mais perceptível da música sertaneja sobre a música gaúcha foi a aceitação do dueto de vozes, o que, até pouco tempo atrás, era fator de discriminação. Se a música tivesse duas vozes cantando juntas não era bem aceita, por ser considerada não gaúcha. Hoje, felizmente, isso mudou e temos excelentes duplas.

No mais, acho que a música sertaneja está presente, mas ocupa um espaço à parte. Música gaúcha é música gaúcha e música sertaneja é música sertaneja.  Cada uma tem seu público e seus seguidores, como qualquer outro gênero musical. Ambas podem até estar incluídas no gosto de um mesmo segmento popular, mas não se misturam. Cada uma tem seu momento.

Quanto à segunda pergunta, ou seja, qual a razão para a pouca saída da música gaúcha para além das nossas fronteiras, eu acho que essa mesma resistência se processa nos dois sentidos, quanto à entrada de outras culturas e quanto à saída da nossa.  Tudo o que pude deduzir, conversando sobre o assunto com algumas pessoas e também trocando ideias nas redes sociais,  é que esse fenômeno está relacionado ao temor de que haja uma deturpação pela mistura indiscriminada e que, com isso, a essência da música gaúcha se perca. Eu concordo que devemos estar vigilantes quanto à deturpação pelo que vem de fora.  O apelo à sensualidade, por exemplo, seja nas letras de duplo sentido seja nas danças populares ou tradicionais, não é e não deve ser aceito.

Mas não devemos temer e muito menos impedir que a nossa cultura seja conhecida ou que cruze as fronteiras do estado. O que é feito aqui tem a nossa marca, os nossos temas, a nossa história. A nossa impressão digital está no conteúdo e não na fronteira geográfica. Somos um povo culturalmente austero e de um civismo raro, mas ao mesmo tempo alegre e hospitaleiro. Temos uma cultura invejável, solidamente alicerçada em uma história vivida e escrita. Não devemos exportar grossura por medo que nos roubem cultura.

Em suma, o que vier para somar sem corromper, que seja aceito. Quanto ao que mostramos ao mundo, a árvore sadia pode galgar o céu sem perder as raízes.

 



Miro Saldanha | Música Gaúcha com cara de Brasil
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